Tuesday, May 28, 2013

Cenas de um dia auspicioso #28

Acordar e tomar a droga que se tomará em jejum até ao dia em que deixar de ser necessário, porque o corpo não precisará mais dela para se sustentar. Há alguns ruídos na casa onde se mora, mas onde se deixará de habitar em breve, independentemente do destino. Alguns amigos queridos enviam mensagens através do telemóvel e fica-se contente. O telefone toca sem identificar o número e é a prima do Brasil que telefona religiosamente mais um ano para desejar um feliz dia de aniversário. Abre-se o e-mail e lojas onde acabámos por deixar a nossa data de nascimento oferecem-nos descontos. Não fazia ideia de que tantas teriam essa informação. Soubera eu antes e tinha planeado as compras e as necessidades de forma mais prática. Abro o Facebook e tenho muitos parabéns que se dirigem a mim. Sinceros todos, creio. [Ou nisso quero acreditar.] Os amigos à distância mandam abraços. Os anos passam, mas há ainda meia dúzia de piadas que permanecem. Logo à noite, às 20.00, a Mãe telefonará. Há quase três décadas, perto da hora do jantar, depois de um dia de trabalho, colocou-me cá fora com a ajuda da enfermeira Mariazinha, no já inexistente serviço de Ginecologia do Hospital da Fundação da Nossa Senhora da Guia, no Avelar. Tudo augura que será um bom dia, mais não seja porque é 28 de maio e faço hoje 28 anos. Os chineses acenariam com as suas cabeças, caso lhes perguntasse o que pensam do assunto, que sim, hoje é um dia auspicioso. Por isso e como não estou a trabalhar, acho que vou mesmo é cortar o cabelo e lavar a roupa. Haja a certeza de que as tesouradas serão certeiras e que as camisolas coloridas não mancharão.

Monday, May 27, 2013

Frase do Dia #47

Depois de um fim-de-semana a afinar a pronúncia alemã, à terceira, que diz que é de vez, a Elfriede na voz d'A Pianista:

«Isso dá segurança e a segurança gera medo perante o que é inseguro. Erika tem receio que tudo fique como está e tem receio que algo se possa vir a alterar.»

Monday, May 13, 2013

A postcard a day keeps the sadness away #22 meets Made in China V


Cliché. Mas só porque acho que, [quase] todos, como eu, que experimentaram o Japão [Ásia], tiveram aquele[s] momento[s] num táxi, de cabeça encostada ao vidro, depois de uma noite num qualquer bar num vigésimo-qualquer-coisa andar, e ouviram, ainda que apenas mentalmente, uma canção dos My Bloody Valentine e pensaram que a vida ainda podia ser algo surpreendentemente maravilhoso.

[Algo que poderá - ou não - ter-se passado numa noite da qual não há fotos, mas em que se usava uma t-shirt às riscas verde escuro e cinzento, com uma écharpe verde e umas calças pretas, em que, depois de uma breve passagem pelo bar do Galaxy Starworld, se terminou a noite a beber umas cervejas japonesas - Asahi - no velhinho Sky 21 sentada a olhar para a Taipa, antes do regresso a casa. E pensando que a vida era tanto mais do que pensava que podia ser.]

Thursday, May 9, 2013

Frase do Dia #46

Esta não vem de livros, embora se tenha passado num lugar onde há muitos. Diz, a certa altura, um indivíduo, querendo elogiar a atitude da pessoa a quem se referia:

«Devíamos todos aplaudir de braços abertos!»

Cá por mim, acho difícil. Mas ainda hei-de tentar. Um dia destes.

Saturday, May 4, 2013

Made in China IV - O regresso do dragão voador [ou apenas eu a tentar endrominar pessoas]

[Espero conseguir um número recorde de visitas nesta espécie de tasco triste que nem álcool oferece, à pala deste título. Mas lembrem-se que, felizmente ou infelizmente, escrevi notícias durante um breve período da minha vida e nem todos os títulos eram/tinham de ser informativos. Bastava que fossem apelativos.]


Ora vamos a isto. Primeiro: não há dragão voador. Mas podia. Porque uma das cenas que deixa qualquer pessoa atordoada e espantada e maravilhada quando chega a Macau é a dança do dragão e/ou do leão, coisa bastante banal para quem é daquelas bandas, mas extraordinária para os palermas dos ocidentais que chegam... erhhh, do Ocidente.

Recordo-me que a primeira «grande» dança do dragão/leão e cerimónia de águinha nas trombas do dito foi numa conferência da FIEALC - Federação Internacional de Estudos da América Latina e Carraíbas [lembro-me bem das «Carraíbas». É daqueles erros maravilhosos de tradução que tanto prazer dá a ver a um português]. E foi no Venetian. Aliás, foi a propósito dessa conferência que fui pela primeira vez ao Venetian. Demorei cerca de 15 minutos - desde a entrada no complexo, atravessando a sala de jogo - a chegar à zona de conferências. Podem perguntar-me o que vestia naquele dia, que me recordo ainda: calças de linho brancas e uma camisa-túnica azul-escura igualmente de linho. Tinha a minha carteira azul clara ao ombro e umas sandálias de couro castanho claro rasas [que ainda hoje uso, ocasionalmente - foram compradas no Brasil em 2005 e são uma categoria!]

Por esta altura, os ninguéns que lêem isto assustam-se: passaram, daqui a nada, 6 anos. A verdade é que, além de possuir uma foto, tirada nesse dia, algures, me recordo bem de ter assinalado a dita dança no primeiro draft do meu artigo - como se aquilo fosse um dos critérios que compõem um acontecimento - e de ter sido ridicularizada por tê-lo feito: coisa mais banal no território não havia [mais tarde haveria de o perceber; que isso e o corte das fitas com uma espécie de pompons é o pão-nosso de cada inauguração].

Aliás, o stress gerado pela cobertura da minha primeira grande conferência foi tão grande que, no ano seguinte, quando acordei de uma anestesia geral que durou mais de quatro horas, achei que estava lá, de novo, no Venetian, a assistir à conferência. E chorei. Oh, se chorei. Porque estava drunfada e acreditava verdadeiramente que tinha voltado atrás no tempo: estava em Macau, tinha voltado para Portugal, mas, sem ninguém me avisar, tinham-me mandado para lá outra vez. Valeu-me o falecido Dr. Moura, que com o seu habitual pragmatismo me perguntou se, porventura, estava no casino. Disse-lhe que sim. E ele, abanando a cabeça e tratando-me como se fosse uma louca, lá me mandou para o recobro. Yep, ele, sim, era um tipo que sabia o que fazia. E eu sinto muitas saudades dele. May he R.I.P. [E não, isto não é uma piada. É genuíno.]