Monday, January 28, 2013

Sabes que o teu dia soube a melancolia, porque...

... Depois de um dia inteiro a ouvir falar de livros infantis e quem os faz e quem os cria ou transpõe para formato digital, sais para a rua com a «Ceremony» - versão New Order - nos ouvidos. Anoiteceu entretanto e, ao percorreres as ruas movimentadas em direcção à estação de metro ocorre-te que, ao longo desse dia, de todas as pessoas - adultas, claro - que ouviste falar, só uma questionou uma criança sobre o que esta pensava sobre tablets e livros impressos. E deste por ti a recordar esses tempos mágicos em que descobriste que o mundo, através das páginas dos livros, podia ser infinito.

Friday, January 25, 2013

Sabes que o teu dia foi mau, mas podia ter sido ainda pior porque...

... Passaste o dia numa prisão mental ao nível da Inquisição Espanhola - e não, não me refiro à versão Monty Python, I wish -, com nós no cérebro que impediam que pensasses com clareza ou sequer raciocinar. Sentiste as vísceras revirar - e não, não foi de enjoo pelo iogurte estragado devorado no dia anterior - vomitaste lágrimas e apeteceu-te apenas mantas e um cobertor na cabeça.

Ofereceram-te um chá de tília - ó Deus, no momento certo, obrigada pelas pessoas certas no momento certo, com a ideia certa - bebeste-o bem quente, tragaste um comprimido para  matar a dor de cabeça que te queria matar a ti, acertaste as ideias e trabalhaste.

Saíste do trabalho a tempo, antes da chuva engrossar, ouviste o Rufus (e não, não era o Gato Rufus, de quem também sentes saudades, embora não tantas como do Gato Nico), entraste no metro, leste o livrinho que estás a ler e de que tanto gostas e, quando ias trocar de linha, cruzas-te com um amigo que já não vias há um ano, pelo menos. Uma breve conversa e quando entras na carruagem sorris e pensas que a puta da ironia se ri de ti. Mas hoje ris com ela.

Chegas a casa, que se encontra na paz do senhor, cozinhas o jantar, arrumas as malas, pões as gotas nos olhos e sentas-te para trabalhar mais um bocado. Ao trabalhares deparas-te com uma tirada que te faz rir sozinha mesmo depois de já teres fechado todos os documentos, só de pensares nela. E dás por ti a pensar que realmente ele há dias surpreendentes.

Thursday, January 24, 2013

Frase do Dia #42

Provavelmente ninguém reparou ainda, porque ninguém lê o que aqui se «bota»: são só pessoas que têm a infelicidade de cá vir parar nem sabem bem como. De qualquer modo, não é meu hábito repetir autores e/ou livros. Porém, porque havia duas ou três coisinhas que aproveitei d'A Pianista, eis a segunda delas:

«A reciprocidade no amor é afinal caso excepcional, na maior parte das vezes é só um a amar e o outro está é ocupado a fugir dele a sete pés.»

Elfriede Jelinek: a constatar o óbvio desde 1983 (ou seja, desde que o livro foi publicado pela primeira vez).

Tuesday, January 22, 2013

Frase do Dia #41

Do medo, porque nunca é demais repetir:

«I must not fear. Fear is the mind-killer. Fear is the little-death that brings total obliteration. I will face my fear. I will permit it to pass over me and through me. And when it has gone past I will turn the inner eye to see its path. Where the fear has gone there will be nothing. Only I will remain.»

E não me aventurarei por mais livros da série Dune, de Frank Herbert.

Monday, January 21, 2013

Cenas e coisas que tais aleatórias #1

No consultório da médica endocrinologista, que consultou para esclarecer a questão dos valores anormais que surgiu nos resultados dos exames sanguíneos mais recentes:

Médica: «Bom, então o que a traz por cá?»
Ela: «Eh, doutora, nos últimos exames que fiz, estes valores aqui  (aponta) surgem muito abaixo do que é considerado normal e queria saber o que significa...»
Médica: (ainda sem olhar para a ficha de paciente) «Hum, pois... você veio cá da última vez por causa do seu problema... hum... você tem um problema que provoca alopécia, não é?»
Ela: (confusa) «Não... vim cá por causa da tiróide...»
Médica: «Ahhhh, é verdade, sim, já me lembro. Sabe, é que vi a sua franja tão perfeita, tão direita, que pensei que usasse peruca!»
Ela: «...»

Sunday, January 20, 2013

Frase do Dia #40

Dos bons conselhos:

«Jump out of bed as soon as you hear the alarm clock!! You may also find it usefull spending five minutes each morning saying to yourself: "Every day in every way I am getting better and better." Perhaps it is a good ideia to start a new day with the right frame of mind.»

Não fui eu que disse. Isto encontrei-o já escrito num pequeno booklet que vinha dentro do Kid A, dos Radiohead, algures no início da década dos 00. Mas escusado será dizer que (ainda) não levei isto muito à letra.

Wednesday, January 16, 2013

Sabes que o teu dia podia ter sido completamente merdoso mas não foi porque...

... Houve greve de metro, mas ficaste em casa. Trabalhaste no quentinho de uma manta, apesar de teres dores horríveis de barriga. E, embora o metro estivesse a abarrotar quando entraste, conseguiste lugar para te sentar e ficar a ler o livro delicioso que estás a adorar.

No escritório, tiveste uma pilha de coisas para fazer, por isso não tiveste grande espaço para pensar em coisas tristes que sabes que ocorrem com quem prezas, mas em relação às quais não podes fazer muito.

Ao regressar a casa, quando meditavas sobre o jantar, ao subir as escadas da estação de metro, a caminho de casa e pensavas que realmente ele há dias em que só apetece ter a cabeça num buraco, qual avestruz, eis que chegas a casa e uma das tuas roomies te pede que lhe expliques como confeccionas um prato. E eis que o dia se anima um pouco: algo útil e que te dá prazer fazer surge inesperadamente e ficas feliz, porque tens alguém para quem cozinhar.

É a tal coisa das simple things.

Friday, January 11, 2013

Sabes que o teu dia foi merdoso porque...

... Tens de ir embora à pressa do trabalho, esqueces-te do guarda-chuva, sais do metro e apanhas uma molha descomunal, porque o céu abriu comportas no momento que saiste das entranhas da terra.

Não sendo suficiente, pegas no carro mais tarde, e, chovendo bastante e encontrando-se os pneus a necessitarem de ser trocados, vais conduzindo devagar, sempre atenta aos veículos da frente, que insistem em caminhar a passo de caracol e apanhar todos os semáforos vermelhos.

Ligas o rádio, para tentar distrair-te - porque estás mesmo deprimida - e passar o tempo que perdes à espera que os sinais abram. Mal a música começa a tocar, reconheces que é Radiohead, do álbum OK Computer. A letra surge-te como por automatismo - o que te irrita -, mas esperas que pare de tocar e seja substituída por outra coisa. Quando ainda tens colado na cara um esgar semi-irónico, começa a tocar outra (!!!) música de Radiohead. Aí, solta-se um sonoro «foda-se». Sai tão alto que o condutor que está na faixa do lado, à espera que o sinal abra, olha na tua direcção e vê-te esbracejar. Apetece-te mandá-lo à merda, mas está verde e avanças.

Já no regresso a casa, vais ao Burger King - é o sítio que tem uma fila menor e o que tu queres é ir para casa, meter-te debaixo das mantas e praguejar. Pedes para levar e dizes que queres aros de cebola. O rapaz acena que sim, que anotou. Recebes a tua comida, pagas e vens embora. Chegas a casa, abres a merda do saco e descobres que te mandou batatas em vez da cebola. Nessa altura estás tão cansada que te borrifas para essa merda toda e comes consoladamente a porcaria do hamburguer e as batatas já frias.

E só pensas no dia merdoso que foi.

Cenas da vida Erasmus #5

Na aula de Comunicazione Politica - que elas frequentam - depois de assinada e entregue a folha de presença:

Professor: «Já não é a primeira vez que isto acontece, por isso, o indivíduo que escreveu à frente do nome de uma jovem estudante de Erasmus 'Sei belíssima!', que ganhe coragem para lhe dizer e não volte a rabiscar as folhas de presença.»

Thursday, January 10, 2013

Cenas da vida Erasmus #4

Os três juntam-se em casa delas para jantar. No final, jogam à bisca, bebem e conversam sobre as dificuldades de aprendizagem da língua portuguesa do ponto de vista de um não nativo:

Ela: «Sabes que o plural, em português, se faz de diferentes formas.»
Ele: «Ai sim? Como?»
Ela: «Ora, tu, por exemplo, não podes dizer 'os alemãos'. Dizes 'os alemões'.»
A outra: «...»

Wednesday, January 9, 2013

Cenas da vida Erasmus #3

Grupos de pessoas munidos de garrafas de cerveja encontram-se espalhados pela praça e pela escadaria em frente à Chiesa de Santa Croce. Eles também lá estão, sentados nos degraus do edifício:

Ele: (tenta abrir desesperadamente uma garrafa de cerveja)
Ela: «Se quiseres, posso pedir a alguém daquele grupo de espanhóis que abriu as nossas garrafas para abrir a tua.»
Ele: «Não. Tenho de aprender a abri-las sozinho! Vou conseguir.»
Ela: «Tens a certeza?»
Ele: «SIM!»
A outra: (dirigindo-se a Ela) «Isso é tão à homem.»

(Meia hora mais tarde, depois de muitas tentativas frustradas)

Ele: (pára de tentar e fica calado a olhar para a garrafa)
Ela: «Tens a certeza que queres beber isso?»
Ele: «Vai pedir ao tipo!»

Tuesday, January 8, 2013

Cenas da vida Erasmus #2

Elas conversam com ele a propósito de uma anedota sobre o tipo de sal culinário usado na Polónia [aparentemente, só se utiliza sal fino para temperar comida], de onde ele é oriundo:

Ela: (explica) «Nós usamos pedrinhas de sal na comida.»
Ele: «Pedras de sal? Na comida?»
Ela: «Sim, no churrasco.»
Ele: «E isso não dói?»
Ela: «...»

Monday, January 7, 2013

Cenas da vida Erasmus #1

Em Verona, numa noite de Outubro, próximas do centro da cidade, quase a chegar à Piazza de l'Erbe, cruzam-se com um grupo de homens que está parado no meio da rua olhando uma ponte que liga dois edifícios. Um dos homens aborda-as:

Ele: «Desculpem, esta é a Ponte dei Suspiri?»
A outra: «Não sei, somos turistas.»
Ela: (de sobrolho franzido) «Olhe, não sei se é assim que esta se chama, mas a única Ponte dei Suspiri que conheço é em Veneza...»
Ele: (visivelmente supreendido) «Mas, onde estamos?»
Elas: «Verona...»
Ele: (meio desconfiado) «Não é Veneza?»
Elas: «Não...»

Sunday, January 6, 2013

Frase do Dia #39

D'«O perigo:

Nada é tão perigoso como teres cumprido todos os teus deveres do dia e ainda ser manhã, teres cumprido todos os teus deveres na vida e ainda não estares morto.»

É uma das Breves Notas Sobre o Medo, de Gonçalo M. Tavares.

Saturday, January 5, 2013

Frase do Dia #38

Perdido nas profundezas de um caderno cujos rabiscos remontam a Abril de 2005, encontrei este pedaço de texto:

«Muros altos, lisos, cuidadosamente polidos à direita e à esquerda, nem uma travessa ou passagem, nem um nicho ou reentrância, só este caminho estreito que tem de atravessar até chegar ao outro lado. Onde, ainda não sabe, espera-a uma passagem invernosa que se estende pelas lonjuras, uma paisagem em que não se ergue um único castelo que a salve e ao qual não conduz um único caminho.»

E foi isto que retive da leitura de A Pianista, da Prémio Nobel de Literatura, Elfriede Jelinek.

Thursday, January 3, 2013

Lista #9: Livros lidos desde o início até metade do ano em que nos encontrávamos antes [Take 2]

O ano passou já, mas posso continuar a listar os livrinhos que fui lendo ao longo do ano passado ao ritmo que bem me apetecer.

O Crocodilo, Fiódor Dostoiévski: O Crocodilo é um livrinho pequenininho que relata a história de um senhor que, um dia, em Moscovo, cai na boca de um crocodilo - ninguém adivinharia - e por lá fica, mandando uns bitaites sobre o mundo e coisas assim. É hilariante. Nunca pensei que o o amigo Fiódor fosse capaz de tanto humor.

Alien, O Oitavo Passageiro, Alan Dean Forster: como tenho uma história pessoal conflituosa com os filmes - que não vi na totalidade, ainda - achei que ler o filme era capaz de ser uma boa ideia. E além disso, o livro por lá andava perdido numa estante, achei melhor ver o que tinha dentro.

Vinte e Seis e Mais Uma, Máximo Gorki: são duas histórias e não são feitas para rir. É muito triste, na verdade. Mas o homem escrevia que era uma categoria, ó sim.

No Rasto do Corsário Coja Acém, Fernão Mendes Pinto: acho que em 2008, que foi quando comprei o livro, comecei logo a lê-lo [aliás, lembro-me de estar na sala de espera do gabinete do dentista a tentar concentrar-me na leitura apesar do barulho daquelas coisas horrendas que nos metem na boca]. Mas só este ano voltei a lê-lo desde o início até ao fim. Desgraçado Fernão, que tanta desventura sofreu pela Ásia. [Hum... isto recorda-me alguém...]

O Pátio Maldito, Ivo Andríc: depois de lê-lo, coisa que me agradou bastante, apesar de ter sido lido nas 5/6 horas em que estive à espera de ser atendida no Centro de Emprego, achei curioso o modo como o senhor parece abordar/recriar personagens que são moldadas pelos espaços/lugares onde estão e/ou vivem. Mas deve ser natural, dada a nacionalidade do senhor e o período histórico em que viveu. E sim, gosto muito.

Wednesday, January 2, 2013

Cenas da vida no campo #2

Aos 27 anos de idade ouviu, pela primeira vez, a mãe falar-lhe de álcool e sobre como não deve beber em demasia. Aos 27. Se tivesse sido aos 17 - isso -, antes de entrar na faculdade e perceber que, apesar de não gostar de cerveja, a cerveja não era má, ainda entendia. Foi aos 27, depois de ter aprendido a amar a cerveja, a boa, a brune, as Chimay, as Duvel, as Delirium Nocturnum e a perceber que Franziskaner não é «a sua praia».

Ainda antes dos 27, percebeu também a relação qualidade-preço dos vinhos da Península de Setúbal, embora os alentejanos e os dourienses - tintos, sempre - sejam, sem dúvida, muito bons. Aprendeu, entretanto, o sabor forte da Touriga Nacional e a suavidade da Trincadeira, embora quando se compare com Cabernet-Sauvignon esta tenha um travo mais intenso.

Depois da vindima, percebeu que a Fernão Pires é a melhor casta de todas e o quanto a água-pé pode ser refrescante pela jovem idade. Já aos 27 aprendeu a distinguir os diferentes verdes e a reconhecer Loureiro e Trajadura e, naturalmente, a apreciar a leveza do Alvarinho. Tudo isto aconteceu muito antes de tal conversa e através de anos de experiência. Daí que ainda me espante da ocorrência do sucedido. Mas já diziam os outros: «Nobody expects the Spanish Inquisition

[Para não mencionar as repetidas incursões a caves de vinho do Porto, nomeadamente, Ferreira, Ramos Pinto, Calém e Sandeman, assim como as visitas a adegas e quintas, como a de Monção, Reguengos de Melgaço e Monte dos Perdigões.]