Wednesday, March 14, 2012

A postcard a day keeps the sadness away #18


Se não fosse o intuito desta série animar os meus dias, eu dissertava um pouco mais sobre este filme, tremendamente deprimente - bom, é redundante, parece-me, já que Lars von Trier é sinónimo de cenas deprimentes. Mas hoje não, porque se começar a dissertar sobre o filme, vou ficar ainda mais deprimida do que estou. Tive tristes notícias, ainda que não me afectem directamente e depois, claro, há que lidar diariamente com as minhas frustrações que são como bombas de estilhaços: destroem tudo o que há em volta.

Lembro-me da primeira vez que vi este filme. Ao final de 20 minutos, talvez, quando a tragédia acontece, percebi logo o que ia acontecer e desfiz-me em lágrimas. Daí até ao final do filme, acho que desidratei, porque nunca parei de chorar. Estava a viver o tormento da Selma e senti-me na obrigação de lhe dar a mão (neste caso, atenção) até ao final do filme, que corresponde também ao seu próprio fim. Daí o choro contínuo: alguém tinha de a chorar, mais não fosse pela nobreza da sua atitude incompreendida.

Ainda assim, há que dizê-lo: embora o núcleo da narrativa seja doloroso, o final é redentor. E isso já é animador.

Tuesday, March 13, 2012

A postcard a day keeps the sadness away #17


Às vezes, em vez de um gato, preferia ter um ewok. Isso é que era!

Monday, March 12, 2012

A postcard a day keeps the sadness away #16



Vi por aí, na infinitude da Internet, que o grande Chuck Norris fez anos no passado sábado. A minha colecção de postais cinematográficos nunca estaria completa se não incluísse um postal com o Chuck em acção.

E, como não podia deixar de ser, aqui fica um facto:

«There is no theory of evolution. Just a list of animals Chuck Norris allows to live.»

Primeiro estranha-se, depois entranha-se #1


Fernando Pessoa era um tipo que sabia o que dizia, claro está. «Primeiro estranha-se, depois entranha-se». Tinha razão. A Pola está a dar-me algum trabalho, mas isso não é necessariamente mau. Talvez por anteriormente ter lido alguns livros «fáceis» - ou que não suscitaram muito do meu interesse e entusiasmo, quando comecei a ler As Teorias Selvagens fiquei confusa. Ou melhor, não estava a conseguir acompanhar o enredo muito bem. Parei na página 65 e pensei arrumar o livro na prateleira, amaldiçoando o dinheiro gasto e o poder de sedução da Pola - decidi comprar o livro depois de assistir em streaming à mesa em que ela participou, em conjunto com Valter Hugo Mãe, na Flip.

Não sei por que motivo, talvez a conjunção cósmica do momento, o posicionamento dos astros, mas, provavelmente graças à minha dificuldade em abandonar um livro a meio, duas semanas depois, voltei à secretária, peguei n'As Teorias Selvagens e recomecei desde o início. Uma vez mais, vá-se lá saber porquê, comecei a nutrir algum afecto pelas personagens fisicamente pouco atractivas desenhadas pela Pola. E estou a gostar bastante do livro.

Afinal, o poder de sedução da Pola estende-se à sua escrita. Mas primeiro estranha-se, depois entranha-se e no final, gosta-se.

É mesmo feia, a Pola, não é? (Pola Oloixarac na Flip.)

11-3-11

Cherry Blossom Girl foi o nick que adoptei ao criar este blogue. Surgiu pouco tempo depois de ter visitado o Japão, em Abril de 2008, no que considerei um golpe de sorte. Cheguei ao País do Sol Nascente em plena Primavera e sakuras era coisa que por lá não faltava. Fiz a viagem sozinha - o avião transportava mais passageiros, claro, mas acho que percebem o que quero dizer - e, embora não tenha visitado as cidades onde estive sozinha, a maior parte das fotos foram tiradas apenas por mim. Inclusivamente e principalmente aquela que figura no meu perfil do Blogger.

Este foi sem dúvida um dos acontecimentos da minha vida. E uso o termo «acontecimento» no mesmo sentido que é utilizado no domínio do Jornalismo - ou pelo menos nos livros que nos mandam ler quando estudamos Jornalismo. Um acontecimento é algo digno de ser noticiado. É algo importante, raro, que acontece fora da rotina. Foi esse o caso da viagem ao Japão. Recordo-me - embora o sentimento seja hoje mais esbatido, um pouco erodido pela passagem do tempo - que me senti verdadeira e profundamente feliz enquanto lá estive: sentia paz, tranquilidade, alegria e tinha a clara noção de que estava a concretizar um dos tópicos da minha lista «Coisas a fazer antes de morrer» com apenas 22 anos.

O Japão é, por isso, um lugar muito especial para mim. Ainda que a minha passagem por essas terras tenha sido breve e poucos lugares tenha visitado, fui muito bem recebida e, tal condicionamento pavloviano, associo o Japão a felicidade (um sentimento ausente de mim durante tantos anos e, como tal, hoje muito valorizado).

Há um ano, o Japão também registou «um acontecimento». Ou pior: três eventos numa só catástrofe. Um sismo de elevada(íssima) amplitude, um tsunami (gigantesco) e um acidente nuclear. A realidade ultrapassou a ficção. Recordo-me do choque das imagens das enormes ondas varrendo vilas, cidades. Casas arrastadas, barcos galgando estradas inundadas. Vi também, pela primeira vez, um fenómeno assustador: fendas percorrendo passeios e jardins, expandindo-se e fechando-se, manifestando à superfície as tensões que emergiam das profundezas da terra. Antes de ter acontecido era inimaginável. Mas aconteceu e tornou-se um facto. 

Durante um mês - dois, talvez? - assistimos diariamente, no conforto das nossas casas, bem assentes num chão menos propício a terramotos, à agonia dos sobreviventes, à dor da perda, à fome, ao seu sofrimento. E, como se não fosse suficiente sobreviver a uma catástrofe natural de tamanhas dimensões, havia ainda que tentar sobreviver à catástrofe «artificial», à radioactividade. Falou-se muito na central nuclear de Fukushima - que até então, quantos fora do Japão saberiam da sua existência? - do facto de a central não ter resistido às forças das águas, ao sismo. Falou-se no grupo de homens e mulheres que permaneceu no interior da central, tentando impedir o pior, ou, pelo menos, tentando minimizar os danos. Para o mundo, o Japão ficou associado a tragédia.

Passou um ano. Fez hoje um ano que o sismo atingiu o Japão e desencadeou o tsunami, o «acidente» na central nuclear, milhares de mortos, centenas de pessoas afectadas pela radioactividade, um pontapé na economia japonesa, acendeu um debate sobre energias renováveis, entre muitos outros efeitos impossíveis de contemplar em conjunto. Passou um ano. O tempo erodiu o espaço dado pelos meios de comunicação social à catástrofe do Japão. Afinal, já passou um ano e o Japão é distante - geograficamente e culturalmente. Passou um ano. Quantos se recordam ainda do dia exacto em que o tsunami varreu o País do Sol Nascente? Passou um ano. Quantos, fora do Japão, terão lembrado, nos meses que se seguiram ao sismo até hoje, o que se passou? Passou um ano. Independentemente de jornais e canais de televisão, estou certa de que na memória dos sobreviventes o tempo que passou não erodiu a memória do que aconteceu no dia 11 do 3 do 11.