Thursday, October 29, 2009

Previsões da Sarina (para o último fim-de-semana de Outubro, quiçá os primeiros dias de Novembro)

O Cadeirão de Sarina, de onde saem todas as suas magníficas previsões

Neste fim-de-semana, o comboio sairá do Oriente cruzando as lezírias do Oeste em direcção a Pombal. Esta conjuntura terá influência sobre os dois dias, conduzindo a tardes animadas no Centro Norte de Portugal. As noites serão frias e recomenda-se que se vistam agasalhos de modo a evitar os surtos de Gripe A. Se assim fizer, terá bons resultados e uma ida ao cinema será uma boa forma de evitar o ar livre e o frio que se fará sentir. Aposte em companhias agradáveis, de amigos que já não vê há algum tempo e verá que se sentirá mais animada. Esta será também uma boa altura para trabalhar, pois os resultados serão frutuosos. Procure rodear-se da família, pois os seus familiares dar-lhe-ão todo o apoio que necessita.

Boa altura para uma mudança de visual. Aproveite para uma ida ao cabeleireiro. Quem sabe, uma nova franja irá aumentar a sua auto-estima. Procure conter as suas despesas. Esta não é uma altura para esbanjar o seu dinheiro. É final do mês, caramba!

No final de domingo, será altura para despedidas. Uma nova etapa e uma nova semana terão início. Recarregue as suas energias, pois dias de trabalho se avizinham e aproximam-se novos conhecimentos.

Sunday, October 18, 2009

Algures entre o Oriente e o Ocidente, a meio está Roma

Não sou fã tremenda de Roma. A Roma que visitei não é igual à Roma de Fellini. E por isso, Roma não me diz muito. Porque não é a Roma de Fellini.

A Roma de Fellini é a Cidade Eterna, cidade das ilusões, onde os seus habitantes se entregam à busca pelos prazeres efémeros, da comida e do sexo. Talvez porque saibam que Roma é eterna e que quando morrerem, ela continuará a existir. Porque Roma basta-se a si própria. A sua herança, a sua memória basta-lhe. E, ainda que decadente, ou suja, ou somente velha, Roma continuará a viver, a respirar, mesmo quando todos deixarmos de ser.

Com um grupo de motociclistas, percorremos Roma. Partindo de Castel Sant’Angelo, passando por Piazza Navona, Piazza di Spagna, até ao Coliseu, Roma surge aos nossos olhos, a grande velocidade, num belíssimo jogo de luzes e sombras. Esta será, porventura, a Roma que todos conhecemos. Mas é, acima de tudo, a Roma de Fellini.

Thursday, October 8, 2009

Made in China III - O que Camões e eu temos em comum


Jardim de São Francisco, nos primórdios - e sempre! - da minha estadia em Macau. Eu morava aqui, nesta rua, mesmo ao lado do Jardim de S. Francisco, assim para os lados do Clube Militar e do Grand Lisboa, estão a ver? Sim, isso, perto da saída da famosa Curva do Lisboa. Por aí. Havia uma passagem subterrânea que ligava à Rua Dr. Rodrigo Rodrigues, já mesmo a pensar no Grande Prémio de Macau, não era? Para quando fecham as ruas e se torna necessário um meio alternativo de as atravessar, e, como a galinha, passar para o outro lado.

O Jardim era ali perto de casa. Se eu viesse pelo percurso alternativo - havia quem dissesse que, nesse sentido, cortando à esquina do BNU, era mais rápido chegar a casa. Mas esse não era o meu percurso dilecto - teria que subir as escadas do Jardim, cruzando-o, para chegar a casa.

Minto. De início frequentava bastante este percurso. Era o mais rápido para o Tribunal Judicial de Base. E como passava muito tempo no TJB, era este o trajecto mais usado, principalmente naqueles dias em que escapava ao almoço para dormir uma soneca, pois que a necessidade de dormir era mais forte que a de comer.

Recordo-me que até era agradável por lá passar. O Jardim pela hora de almoço era engraçado. Podia-se ver por lá, brincando, os pequenitos que frequentavam a escola mais próxima. Havia um pequeno parque infantil, com baloiços, onde também me sentei algumas noites, depois de findo o trabalho. Era um local aprazível e seguro, pouco frequentado por noctívagos, nessas horas perdidas.

Quer dizer, é uma afirmação relativa. Pois cerca das 5h50, 6h, por lá me cruzei em certas ocasiões com os mais velhinhos. Eles já se tinham levantado da cama e iam para o seu tai-chi matinal. Eu ia para casa, para o meu leito, dormir, pois a hora tardia a isso obrigava.

Mas não só eu por lá havia passado. Outro português, ilustre, diz-se que também lá teria ido, noutros tempos. Um pouco antes. Aquele que escreveu a nossa história em poema, um tal de Luís. De Camões. E no Jardim de São Francisco diz ele:

Nesse poiso
De suave tristeza me acudiam
À memória as lembranças do passado,
Magoadas co'as ideias do presente,
De envolta com os receios do futuro
E acaso de esperança verdejada
Leve folha dos ventos assoprada

Bonito, não?

Sunday, October 4, 2009

Good things come from Iceland

"Poucas coisas são tão falíveis e inconstantes como o coração que ama, e no entanto é o único lugar no mundo onde existe o sentimento de partilha."

in Gente Independente

Halldór Laxness

Bjartursdóttir ou Mera Introdução à Obstinação Humana

Halldór Laxness

Halldór Laxness, escritor islandês, recebeu o Prémio Nobel da Literatura em 1955. Da interminável lista de Prémios Nobel da Literatura, o seu nome é mais um dos ilustres desconhecidos que a integra. Em Portugal, a Cavalo de Ferro publicou em 2007 um dos seus romances, Gente Independente. O único em português dos 51 que escreveu.

Porque me desviei de Macau para os livros? Simples: este é um dos meus eternos prazeres e este é um dos autores que mais me marcou. Porque não falo islandês, é grande motivo de revolta o facto de não conseguir encontrar mais livros de Laxness.

Devorei Gente Independente e fiquei extasiada. É belo o enquadramento mágico da história de Bjartur, um homem que luta pela sua independência. Determinado e obstinado, Bjartur quer mostrar a todos que é capaz de ser auto-suficiente. Que pode ser independente. Mas na sua obstinada e cega luta por essa independência financeira, rui a sua família e acaba por ruir, posteriormente, a sua própria vida como ele a conhece.

Bjartur luta. Luta desenfreadamente contra tudo e todos. Luta contra as superstições, contra os fantasmas, contra a dependência financeira, para mostrar que ele, Bjartur, é um homem independente. Um verdadeiro islandês, numa época em que o país, muito pobre, se encontrava sob o domínio dinamarquês.

Embora o final seja a ruína de Bjartur, após centenas de páginas de uma luta estóica, e, por vezes, a sua obstinação roce o ridículo, seremos insensíveis se não nos deixarmos tocar por este homem duro, que não confia em ninguém. Apenas na sua cadela, Títla. Esta é uma história de humanidade de um homem, que é apenas isso, humano. E daí a sua grandeza.

Bjartur não é herói, nem pretende ser. Mas é inspirador. E esta não é uma história feliz. Mas, seria ingénuo quem esperasse que o fosse. O mais que podemos é olhar para Bjartur e, talvez, aprender. E basta. Não podemos pedir mais.

Talvez haja uma lógica natural, que me faz trazer este livro. Na realidade, Gente Independente acompanhou a minha estadia em Macau. Antes de dormir, procurava sempre avançar um pouco mais. Acrescentar mais algumas linhas à história de Bjartur. Talvez na esperança que ele conseguisse alcançar a sua independência. Ou talvez mesmo para desvendar o sentido da vida. Mas o sentido da vida não estava lá. Era apenas mais uma pista para lá chegar. A juntar a todas as outras que se vão coleccionando. Resta-me agora acalentar a esperança de um dia conseguir juntar todas as peças e lá chegar. À Islândia, sim. E ao sentido da vida, também. Quem sabe?

Thursday, October 1, 2009

Made in China II - Come on home!



Depois de um dia a trabalhar, o que é que se faz, normalmente? Bom, reconheço que há várias opções disponíveis... Pois bem, quando os meus dias de trabalho - ou deveria dizer "noites de trabalho"? - chegavam ao fim, rumava a casa. Isto, na maior parte das vezes. Outras, esporadicamente, já após alguns meses de Macau, dava um saltinho ali ao Grand Lisboa, que surge proeminente nesta foto, tirada ao lado da entrada do pátio do prédio onde eu morava.

Quando lá ia, se não era de dia, a trabalho - o que nem era muito comum, diga-se - era de noite, depois de dar por findas as minhas tarefas no jornal. Não ia jogar, como até podem supor. Ia comer sanduíches ou cachorros, servidos como se se tratassem de haute cuisine (e aqui vos deixo o link, para que conheçam o Crystal Lounge & Deli).

Não ia sempre, claro. A carteira não mo permitia. Aquilo não era uma "sandes" qualquer! Eram sandes "assinadas"! Ah, como percebemos o valor do que tínhamos, quando não dispomos mais dele! Eu gostava daquelas sanduíches! Juro! E depois tinham o valor simbólico da recompensa depois de um duro dia de trabalho. O que as tornava ainda mais especiais.

É curioso. Ao escrever sobre estas sanduíches, consigo sentir ainda o sabor das batatas fritas com ondinhas que costumavam acompanhar o cachorro. E recordo-me de uma noite em que, sentados numa mesinha junto à "varanda" do lounge, com vista para as mesas de jogo do casino, lá em baixo, escutávamos os urros de contentamento de algum senhor chinês que devia estar a ter uma lucky night. E ali ficávamos nós, a observar o comportamento das pessoas que jogavam, e dos croupiers, enquanto ruminávamos a nossa sanduíche, ou fazíamos vozes, imaginando o que pensavam as pessoas que jogavam.

E é estranho agora lembrar como era, pois parece irreal à luz da realidade do presente.

Made in China I - Just another day in the office


Tem início a série de posts Made in China. Baseado no nome do álbum de fotos criado durante a estadia na Região Administrativa Especial de Macau da República Popular da China - ou, para os que sabem como funciona, RAEM, ou, "o" território, ou, apenas e simplesmente, Macau -, não pretendo, contudo, com esta série, nada de especial, nem espero que cumpra uma função especial, que vá mudar a vossa vida. A ideia é apenas partilhar algumas das imagens que trouxe comigo, mostrar-vos uns pedacinhos do território, pois, no que respeita a esta experiência - uma espécie de Fear and Loathing in Macao - é difícil explicar o que aconteceu, o que foi, e o que é Macau. Só vos posso dizer: vão lá e depois contem-me como foi.

Para vos iniciar no que seria uma ida normal para o trabalho, mostro-vos o início do percurso. Sem análise semiótica da imagem, vou directa ao assunto. Era descendo estes lances de escadas, que ocupam metade da rua, que me dirigia à redacção do JTM. Aqui não se vê, mas de ambos os lados funcionavam - e ainda hoje devem funcionar - uns "Estabelecimentos de Comida", como são designados na velhinha tradução portuguesa. Não irei muito longe na sua descrição. Posso apenas asseverar que de noite, no verão, à noite, nesta rua, é possível conviver com baratas do tamanho de camarões, e que, durante o dia, se convive com os tachos e as panelas ali lavadas no chão, mesmo na rua.

Contudo, o que se destaca, de modo proeminente, nesta rua, de nome meu desconhecido, é o odor. Com a humidade e o calor do verão, os odores tornam-se mais intensos e uma mescla de sweet and sour - agridoce para quem não fala estrangeiro - atinge as narinas como um torpedo mortífero. Nunca pensei recear os cheiros. Foi preciso ir até ao outro lado do mundo para entender o seu poder. E posso afirmar com toda a propriedade que nunca devem substimar o poder do cheiro de frango doce às 7h00 da manhã quando ainda não se tomou o pequeno-almoço!